Roma, 26 de agosto de 2010
“Tu me tens ensinado, ó Deus, desde a minha mocidade; e até agora tenho anunciado as tuas maravilhas.”
Salmo 71,17
Há oitenta anos atrás, o Brasil estava iniciando um novo tempo. Encerrava a “República Velha”, Washington Luiz, deixava a presidência e Getúlio Vargas, depois de comandar a Revolução de 30, assumia o governo.
Também o mundo teve uma Miss Universo brasileira, sim, em 1930 Yolanda Pereira, do Rio de Janeiro é eleita a mulher mais bonita do mundo. Já no campo religioso, o Papa Pio XI declara Nossa Senhora da Conceição Aparecida Padroeira do Brasil. O Brasil ganha uma mãe no céu, e aqui na terra nasce Lúcia Francisco.
É claro que não ficaria conhecida com esse nome, por que sua mãe tinha feito uma promessa: se fosse menina se chamaria Luzia, mas seu pai, talvez por não entender de promessas ou traído pelo forte sotaque italiano, registrou como Lúcia, a iluminada.
Hoje, 80 anos depois, por pura coincidência, ou quem sabe, por providência divina, na aula de italiano alguém disse que Lúcia (Lútia, em italino), se pronuncia Luzia (Lutía).
Na minha cabeça veio toda história da minha avó Luzia, que carrega no seu nome o verdadeiro significado da sua personalidade: Mulher Iluminada.
Falar da Vó Luzia, é fácil, pois não precisamos recorrer a idéias complexas, basta falar de simplicidade, discrição, fidelidade e amor.
Simplicidade porque durante toda a sua vida soube cultivar pequenos valores, o que dá a minha avó esse olhar firme e ao mesmo tempo sereno. Sabe muito bem o peso dos anos, mas vive de maneira tão singela que parece que os dias precisam pedir licença para entrarem na sua vida.
Sempre foi discreta. Prefere sua casa, sua horta, seu fogão... Prefere chegar sem fazer barulho mas sempre com alguma coisa nas mãos ou então, sempre com as mãos abertas, prontas para fazer um gesto de ajuda. Discreta no sofrimento, na alegria, nos longos anos em que cuidou dos pais, nas conquistas e nos sonhos.
Fiel à sua família, aos seus princípios, à sua fé. A fidelidade é tanta que mantém em sua sala o mesmo relógio que seu pai comprará há tantos anos atrás, dando corda, ouvindo as suas badaladas, contando as suas horas. Penso que essa virtude ela conseguiu passar para todos nós. Precisamos nos ajudar, somos uma família, é importante estarmos juntos. Uma das formas que exercita a fidelidade é nos almoços de domingo. Meu Deus como tenho saudades do macarrão com frango, da polenta com molho, dos tortéis, crusteles e todos os sabores que fizeram da nossa família uma família unida.
Amor porque sabe cuidar, sabe ajudar na hora certa, sabe ser mãe e avó.
Penso que com o passar dos anos a vó Luiza ficou melhor, soube envelhecer com dignidade e afeto.
Neste dia tão especial, peço a Deus que continue dando à Senhora tudo o que precisa para ser feliz.
Que Ele lhe dê flores no seu jardim, verduras na sua horta, bolos no seu fogão, mas acima de tudo, muitos anos de vida, por que assim poderemos continuar compartilhando da alegria de tê-la entre nós.
Um beijo grande, uma benção do Papa, uma benção minha, e te peço a benção, para que eu posso continuar o meu caminho, tendo a senhora como exemplo iluminado.
Lúcio
2 comentários:
Belissíma carta, em palavras iluminadas e carinhosas. Como é bom poder recordar de bons momentos entre o neto e sua avó. Ter essa história como exemplo, melhor ainda.
Parabéns para sua avó por mais um ano de vida.
Que Deus te abençoe sempre.
O caminho a trilhar pode parecer difícil, mas quem disse que iria ser fácil?
Lembre-se apenas que sua escolha foi seguir o pai e que todas as pessoas que te amam e te adimiram torcem por suas conquistas.
Um abraço.
Que lindo ! lendo a carta dá vontade de conhecer a Vo Luzia pessoalmente.Pe e o cabelo de cor natural ... o sr esqueceu de mencionar rs. è admirável a sua relação com suas avós ... lembro do sr comentando sobre elas na varanda do seminário ... acredito que o senhor deve ser o xodó delas ... beijos
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