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terça-feira, 24 de maio de 2011

Como será o Paraíso?



Uma vez, há quase vinte e cinco anos, um amigo me perguntou num tom jocoso: Pra você como será o céu? Com carneirinhos e nuvens brancas?
Lembro-me bem que minha primeira reação foi ficar ofendido com aquela pergunta. Ele me conhecia bem, pensava eu, sabia no que acreditava, dividíamos os mesmos ideais, trabalhávamos na mesma pastoral e sonhávamos juntos.
Mas pensei um pouco, tentei imaginar qual era a imagem que ele tinha de mim e da minha fé, falei que estava ofendido e não pensei muito sobre as coisas do paraíso, afinal, acreditávamos que o céu começava aqui na terra, com distribuição de rendas, com justiça social, com paz e trabalho para todos. Segui minha vida. É muito bom saber que vivemos momentos intensos, verdadeiros e eternos.
Tenho na mente registros profundos de momentos especiais: noites de lua cheia, canções cantadas com o coração, amigos que nunca mais vi, pessoas que foram fundamentais em alguma etapa da minha vida e que agora não tenho mais notícias, amigos que terminaram sua missão e voltaram para Deus, livros lidos, histórias contadas, risadas, lagrimas, horas viajando pelas estradas, cidades, encontros, celebrações. São quase vinte e cinco anos de vida bem vivida, com direito a todos os erros que um jovem pode cometer e também todos os acertos que consegue realizar.
Eu sinto que a vida é um imenso caminho aonde vamos encontrando as pessoas e realizando as experiências, sem deixar de ser aquele que era antes mas com a sensação de que mudou muito. Sei que é difícil de definir o que realmente somos, mas acredito que realizamos em nossa vida os sonhos que temos para o mundo. Se acreditarmos que um mundo melhor é possível, isso refletirá no nosso cotidiano, irá definindo que tipo de pessoas vamos encontrar ao longo dos dias e vai imprimindo uma marca em nosso caráter.
Eu escolhi o caminho do cristianismo. Sempre pensei que esse era o melhor caminho para mim, de viver intensamente a vida tendo Cristo como base. Trilhei o caminho da fé, sem saber aonde iria me levar, e ainda não sei, mas fui descobrindo que ser cristão é ser extremamente humano. Fiquei encantado quando na teologia descobri Jesus Cristo. Descobri que o Verbo realmente armou sua tenda entre nós e nos mostrou que é possível ser bom. Encantou-me os documentos da Igreja, as diversas pastorais e os tantos caminhos para se chegar ao mesmo objetivo.
Conheci tantas realidades, deparei-me com tantas dificuldades, tantas dores e sofrimentos, até descobrir que eu também era limitado e cheio de defeitos. Sou a soma de tudo o que vivi ao longo dos anos, mas sei que determinei muitas coisas para mim mesmo. Sou o mesmo moleque tímido de ontem, apesar do homem descontraído de hoje. Tenho ainda muitos medos... Mas, penso que é prudente não ser tão seguro de si, nos faz mais humildes e nos livra de pensar que não precisamos da ajuda de Deus. Eu preciso rezar, preciso silenciar, preciso dos sacramentos, preciso me atualizar sempre, eu preciso.
Eu gosto do que faço. Amo meu sacerdócio e tenho vergonha das minhas incoerências. Gosto dos santos e sou devoto de Nossa Senhora Aparecida, sempre que dá eu passo na sua casa para uma visita.
Eu descobri que o mundo é menor do que eu pensava, mas muito mais complexo do que imaginava. Descobri que a minha visão de Igreja não é a mesma do meu amigo polaco, nem a mesma do meu amigo venezuelano, nem a mesma do meu amigo filipino, nem a mesma do meu amigo brasileiro. Mas estamos unidos, porque a Igreja é a mesma e Jesus é a nossa referência. Descobri que o importante não é ficarmos brigando pela verdade, mas buscarmos juntos a Verdade, afinal estamos juntos no Caminho, e queremos todos a mesma Vida.
Hoje, eu conheci essa canção: “So che sei qui”. E me veio na mente a mesmas pergunta de tantos anos atrás: O que é o céu?
Eu descobri, depois de todos esses anos, que eu não sei tudo sobre o Paraíso, não sei tudo sobre o mundo. Preciso escutar mais, viver mais a minha consagração. Só assim poderei descobrir aquilo que sempre quis saber sobre as coisas do céu. Sei que em muitos momentos da minha vida eu senti o céu perto de mim. Senti que é possível viver o Paraíso aqui na terra, mas é preciso saber quem é Jesus Cristo, amá-lo, segui-lo. Só assim saberemos o que é o Paraíso e o que é a vida. Só assim seremos um Nele, e Ele em nós.
Quanto aos carneirinhos e nuvens brancas, descobrirei quando chegar lá... depois eu te conto.

Um comentário:

Rogério de Oliveira disse...

Bonito, Djalma. Singelo e profundo. Mas só um pedido: quando estiver no paraíso, não precisa voltar pra contar como é, tá?