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sexta-feira, 3 de junho de 2011

Em Saint Quentin, diante do túmulo de padre Dehon

Saint Quentin é uma cidade tranqüila e bela. Não se vê muito os horrores que as duas Grandes Guerras Mundiais produziram na cidade, apesar de alguns sinais terem sido preservados para que a memória não apague os erros do passado, e assim garanta que os mesmos não sejam repetidos hoje.
Perto do hotel onde estamos tem um cemitério, com uma bandeira francesa e muitas cruzes, indicando que aqui várias pessoas perderam a vida e outras não tiveram muito tempo de paz.
Na Igreja de Saint Martin, encontramos uma acolhida alegre de nossos confrades dehonianos, que prepararam um bom jantar à moda francesa. O padre Antônio, espanhol que há mais de vinte anos trabalha aqui na França, recebeu-nos e foi respondendo as diversas perguntas curiosas que tínhamos. Já os padres Bernard e Marcel, chegaram depois, estavam preparando o jantar. Ficamos sabendo que eles são conhecidos como “padres operários”, pois realizaram a missão de sacerdotes no meio dos operários das fábricas, tornando-se também eles operários para ficarem mais próximos desse povo. Passou pela minha cabeça toda a história de padre Dehon, que ao longo da formação eu tinha lido nos livros e escutado dos padres mais experientes, e agora, bem na minha frente, tudo se faz presente.
O jantar aconteceu num pequeno salão paroquial, no fim, ajudamos na arrumação da louça e do ambiente, e fomos para a Igreja. Só quando eu entrei dei-me conta que ali estava sepultado o Padre Dehon, nosso fundador. Minha razão de ser dehoniano está na coragem e na fé daquele homem. Quantas vezes eu ficava imaginando a sua realidade, a França de sua época, a cidade de Saint Quentin. Quantas vezes eu tentei entender o carisma dehoniano e adquirir uma espiritualidade do Coração de Jesus, como o próprio Dehon pensava. E agora, aqui estou diante do túmulo do Padre Dehon.



Já passava das nove e meia da noite, mas ainda era claro, pois o sol aqui não vai dormir cedo e às vezes espera a gente ir primeiro. Dentro da Igreja, construída pelo próprio Dehon, estava só o nosso grupo de formadores. Fizemos um semicírculo diante do seu túmulo, e iniciamos uma celebração. Não foi muito longa, mas intensa. Podia ver nos olhos de cada um de nós a emoção daquele momento, éramos dehonianos de tantas partes do mundo, de culturas tão diversas, mas ali, éramos todos filhos do mesmo Pai espiritual. Depois de uma pequena leitura, um silêncio, um canto e um por vez, com um ramo de flores nas mãos, fizemos um agradecimento especial. Alguns rezaram na sua própria língua, o que dava àquele momento um toque especial de internacionalidade e de dimensão congregacional.
No final, Vímal, nosso diácono indiano, depositou as flores sobre o túmulo e depois de um breve silêncio, cantamos.
Tudo é muito simples. A cidade não é grande, a Igreja onde iniciou a primeira comunidade dehoniana não é totalmente bela, o nicho onde estão depositados os restos mortais do Padre Dehon é humilde, mas ali, toda a nossa dehoneidade falou alto, é como se gritasse dentro de nós todas as verdades defendidas por padre Dehon. É como se coroasse todo o nosso curso de formadores, vivido nesses últimos meses. Veio-me à mente algumas frases atribuídas ao Padre Dehon: “deixo-vos o mais maravilhoso de todos os tesouros: o Sagrado Coração de Jesus”; “por Ele vivi, por Ele morro”; é preciso ter a bíblia numa mão e o jornal na outra”; “um homem que quer transformar a sociedade não pode ter idéias tímidas”, enfim, frases que nos ajudam a entender a força que este padre teve e toda a sua dedicação para fazer deste mundo um lugar melhor.
No encerramento deste momento, padre Antonio nos disse uma frase que um confrade francês falava sempre quando encontrava alguns dehoniano que vinha visitar Saint Quentin: “Vocês vem aqui para ver Padre Dehon, mas na realidade são vocês que acabam trazendo Dehon para nós”. Ele tem razão. Padre Dehon continua vivo na sua obra espalhada pelo mundo. Aqui está só o começo de toda essa história que, em nós, se faz atual.
Nossa peregrinação continua. Mas agora está com outra cor e outro sabor. No meu agradecimento, diante do grupo, eu disse uma frase que me motivou a conhecer pela primeira vez um seminário dehoniano: “Venha construir conosco a Civilização do Amor!”. Agradeci a Deus a vocação religiosa dehoniana, agradeci ao Padre Dehon toda a sua coragem de viver radicalmente o evangelho, e pedi que me ajudasse a ser fiel como dehoniano.
Na vida é preciso ter sempre motivações verdadeiras para poder realizar nossos sonhos. Melhor ainda é quando encontramos outras pessoas que também sonham como nós.

Um comentário:

Zdzislaw disse...

Buon viaggio. Vedete tutto e scrivete tanto. Non vi stancate. ZKH